Setembro Amarelo: séries e filmes que debatem sobre o suicídio
O Setembro Amarelo incentiva as discussões sobre doenças como a depressão e a ansiedade, e ressalta a importância de falar sobre o que sentimos, além de incentivar a busca pela ajuda profissional.
TRIGGER WARNING (TW): este texto fala, entre outras coisas, sobre a série 13 Reasons Why (Os 13 porquês) e discute como o suicídio é apresentado por esse audiovisual. Se esse for um assunto que pode desencadear alguma crise, não prossiga com a leitura.
Segundo dados de 2019 da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio já é a segunda causa de morte de jovens de 15-29 anos no mundo. E a melhor forma de prevenção ainda é o diálogo, que acontece quando há a busca por ajuda.
Se você está passando por um momento difícil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) conta com telefones que oferecem auxílio 24 horas, sem custo. Ligue 188 e peça ajuda. Você vai ser acolhido, você vai ser ouvido. Ligue 188 ou converse através do chat ou e-mail.
Compartilhar sobre o quão suscetíveis podemos ser, e dividir nossos medos e fraquezas nos afeta profundamente, mas é uma das melhores maneiras de diminuir o fardo das aflições. A campanha do Setembro Amarelo acontece desde 2014, através de uma parceria entre CVV, Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), e visa intensificar a prevenção do suicídio.
Adoecimento mental: como o audiovisual coloca o tema em debate
A genética, a poluição e até os agrotóxicos podem ser considerados como catalisadores de transtornos mentais. Além disso, também existem fatores como estresse, mudanças bruscas na rotina e acontecimentos que desestabilizam o ser humano, como a perda de familiares.
O sentimento de solidão é um fator que costuma ser comum entre quem tem pensamentos suicidas, e é por isso que é tão importante falar sobre o assunto, pois dessa forma é possível estar atento aos problemas do outro, incentivando a busca por ajuda e abrindo caminhos para que quem sofre não se sinta sozinho.
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Mas ainda não há uma fórmula certa para falar sobre o assunto, principalmente em se tratando de grandes produções cinematográficas que abordam o suicídio, como a série “Os Treze Porquês” (13 Reasons Why) e o filme “As Vantagens de Ser Invisível” (The Perks of Being a Wallflower).
Ambos abordam o assunto de maneira distinta e abrem espaço para a discussão sobre o tema, que ainda é considerado um tabu.
Contudo, há também a discussão sobre a possibilidade de que os audiovisuais sejam vistos como um gatilho para quem está doente.
“As Vantagens de Ser Invisível” e a solidão humana
O filme de 2012 é baseado no livro homônimo, e conduz o espectador ao fundo do poço que é a adolescência do protagonista, nos levando a compreender o quão únicas as mentes podem ser.
Além disso, expõe as dificuldades que alguém com transtornos mentais enfrenta ao se relacionar e se estabelecer na sociedade, principalmente na fase da adolescência.
Mais de 30% dos jovens sofrem de algum transtorno mental comum (TMC), que pode levar a depressão. Esses dados de 2016 significam que, em média, 1 em cada 3 jovens no país sofre com o adoecimento emocional em algum nível.
Algumas das possíveis causas desses TMCs ainda são a desigualdade social e a falta de conforto emocional dentro de casa, segundo a mesma pesquisa, que entrevistou mais de 85 mil jovens entre 12 e 17 anos das escolas brasileiras.
O peso da expectativa sobre o futuro, a falta de rotina saudável de sono e a dificuldade de acesso à educação de qualidade causa um desequilíbrio hormonal. Além disso, a falta de tato na relação familiar também é fator que coloca em risco a saúde mental e emocional dos jovens.
“As Vantagens de Ser Invisível” narra uma sequência de acontecimentos que ampliaram os traumas de Charlie, o protagonista.
“Então, esta é a minha vida. E quero que você saiba que sou feliz e triste ao mesmo tempo, e ainda estou tentando entender como posso ser assim.” - As Vantagens de Ser Invisível
Charlie perdeu duas pessoas importantes, e isso mexeu com ele. A tia, sua pessoa favorita, e o seu melhor amigo, que havia cometido suicídio, eram as únicas pessoas com quem ele conseguia conversar. E foi justamente na ausência desses relacionamentos que o seu gatilho para um TMC transformou-se em uma crise que colocou em risco sua vida.
Além de se sentir culpado pelas perdas, Charlie sentia o peso de não conseguir estabelecer uma conexão afetiva sincera com outras, e o peso dessas situações o levou aos pensamentos suicidas e a sua internação.
>>> Leia também: Prevenção do suicídio: sinais e ações para prevenção.
Somente quando Charlie recebe ajuda é que ele começa a organizar os pensamentos em sua mente, entendendo que ele não tem culpa dos traumas aos quais foi submetido.
A ajuda profissional para lidar com a culpa e com as frustrações por não se encaixar nos padrões foi crucial, assim como o apoio da família e dos amigos.
O filme acertou no tom da abordagem do adoecimento mental, estimulando a busca por ajuda profissional, e ressaltando a importância de uma base de suporte.
“Os treze porquês”: enredo com erros e acertos ao falar sobre suicídio
Uma das séries mais impactantes sobre o assunto é também apontada como um gatilho para quem já possui algum tipo de transtorno.
“Os treze porquês” faz com que qualquer espectador vislumbre o que se passa no mundo de quem tenta tirar a própria vida. Ela também trata do bullying, do quão tóxica pode ser a relação social na escola, do machismo, dos abusos sexuais, da falha dos educadores em entender as angústias dos alunos e discute sobre como nem sempre os pais conseguem reparar o que está acontecendo com seus filhos.
A série também retrata que o suicídio é complexo, e não é uma atitude que acontece sem que a pessoa dê sinais. Sinais esses que são percebidos no comportamento de Hannah, a protagonista, através de seu afastamento, mudança brusca de corte de cabelo e na sua fala, principalmente ao expor suas angústias ao conselheiro escolar.
O que psicólogos apontam como questão negativa principal é como a produção escolheu explicitar demais, retratando o momento do suicídio da personagem.
Cada episódio de “Os 13 porquês” aponta culpados pelo sofrimento de Hannah, o que se relaciona com algo que os manuais sobre divulgação de suicídio não incentivam: o ato de atribuir culpas e a divulgação de cartas suicidas – a série em si é uma. Outro ponto apontado como negativo é o fato da série mostrar que a busca por ajuda foi infrutífera.
A narrativa faz com que o espectador sinta o peso dos acontecimentos e dos abusos, e por isso é tão criticada por uns e tão aclamada por outros.
Independente do peso da narrativa e das soluções que ela aponta, é necessário lembrar que jamais estamos sozinhos e que há sempre uma voz amiga disposta a ajudar, mesmo que desconhecida.
É por isso que se fala tanto para que não haja medo ou vergonha de pedir ajuda, e o Centro de Valorização da Vida (CVV) tem no número 188 um atendimento 24h para ouvir quem precisa.
O serviço é gratuito e conta com atendentes preparados para auxiliar quem está em dificuldade. Também é possível pedir ajuda através do site, clicando AQUI.
A série tem seu papel em incentivar o pensamento crítico sobre as nossas ações enquanto indivíduos, promovendo o debate sobre bullying, abuso sexual, homofobia, transtornos mentais, abuso de bebida na adolescência e dificuldades de relacionamento. O fato de que os Transtornos Mentais Comuns (TMCs) acometem mais de 30% dos jovens em idade escolar, deixa claro a importância de um ambiente escolar saudável.
Ainda que os dois audiovisuais despertem diferentes discussões, ambos servem para trazer o assunto para a rotina, tornando possível que pessoas possam falar sobre o que sentem usando os filmes como exemplo.
Servem também para que quem não lida com nenhum transtorno saiba que existem sinais, que existe força nas palavras e na presença. Quando um(a) amigo(a) começa a agir diferente pode ser um sinal de que ele(a) está enfrentando uma situação difícil, e precisa que você pergunte, de verdade, se está tudo bem.
Estar presente é muito importante, principalmente para que aquela pessoa sinta que ela não é um desperdício de espaço ou de tempo.